Completo. Lê-se de cima para baixo

7º dia – Sexta-feira

Só acordei ao meio-dia.
Tenho que estar em França dentro de 7 dias, pois os tipos não me trocam mais Escudos.
Na primeira boleia, aconteceu pior do que eu já receava: quando, num 3 portas, ponho a mochila no banco de trás e vou para me sentar, dou com o banco do pendura e não só, cheio de leite. A rolha da minha garrafa de leite tinha saltado e eu entornara uma grande golfada pelo banco. O tipo olhava-me com um ar muito infeliz… Desolado, fiquei logo na mó de baixo, mas pe­di-lhe as minhas desculpas e pronto.
A conversa foi bastante interessante. O tipo é professor primário e começa a estar politizado. Está na fase de acreditar nas conquistas sindicais: como se o patronato não as recuperasse nas calmas. Falei do processo em Portugal e ele falou de Espanha. As manifestações aqui, têm que ser autorizadas, indicando o trajecto a percorrer, o que se pretende pedir, etc., e mesmo assim, de vez em quando, lá vão alguns desta para melhor. Receia que a confusão, que reina na len­ta liberalização em Espanha, dê azo a que um militar qualquer faça um golpe de Estado e se volte ao mesmo.
Deixou-me em S. Roque. Almocei à beira dum riacho.
Um tipo agradável levou-me a Marbella, onde fiquei. Disse que Marbella é mais fechada e mais sofisticada que Torremolinos.
Na estrada que percorremos, vi algumas urbanizações turísticas muito agradáveis à vista.
Consegui um quarto porreirinho por 110 pesetas, fora o banho. Lavei mais umas coisas e a mochila, que estava já muito mal.
Marbella tem lojas de tudo, por todo o lado e muitos bares de várias nacionalidades. Quem quiser gastar dinheiro não precisa de ir longe. Está cheia de estrangeiros, que à noite andam to­dos pinocas, elas de vestidos compridos bordados. Tudo muito chic.
Chateei-me bastante. Não era isto que eu esperava. Se há alguma coisa que eu quero, isto por aqui não é.
Tentei entrar numa “boite” ou lá o que era, mas o porteiro lá achou que eu não tinha di­nheiro ou estilo para aquilo. Queria 300 pesetas à entrada.
Havia um clube chamado: Clube 33 – Hang me. Estas palavras acompanharam-me toda a noite: HANG ME.

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