Completo. Lê-se de cima para baixo

14º dia – Sexta-feira

Estou com cara de bébé-chorão. Deve ser de tan­to leite.
Saí ao meio-dia e a minha vontade era conti­nuar a dormir até ficar satisfeito.
Vi uma velhota que me prendeu muito a atenção. Empurrava um carrinho de bebé carregado de cai­xas de cartão. Na plataforma inferior, ia insta­lado um cão, numa das caixas, outro, sem dar mos­tras de se sentir mal e a pé, preso por um cor­del, um maior. A cada 10 metros, caía uma caixa e lá ia a velhota nas calmas voltar a colocá-la em cima das outras, enquanto os cães, impávidos e serenos, esperavam. Que quadro!

Múrcia


Um pedação a pé até à saída de Múrcia. Tenho que começar a utilizar os autocarros. Boleia de 20 km até Orihuela, dum tipo que acha que há problemas económicos por todo o lado, porque a malta não quer trabalhar. Austeridade é que é preciso. O de ontem tinha medo era do aumento do preço da gasolina. Um deles disse que se estão a fazer con­dutas para trazer água do Tejo para regar a região de Múrcia. (!)
Ia eu a roer um lanche estrada fora, sem pedir boleia, quando parou um tipo que me levou uns 50 km, até Santa Pola, passando por Elche. Quando começam a perguntar o nome, apertar a mão, ajeitar o cinto, perguntar se sou casado, está o caldo entornado. Foi o caso. E era um tipo aí de 26 anos. Disse que gostava de mu­lheres, mas também de homens. Que tinha e tem muitas mulheres, mas que se cansa e então gos­ta de variar. Onde é que eu já ouvi isto? “Como a vida é tão curta, temos de provar de tudo. Cristo disse para nos amarmos uns aos outros”. Que pensava que não gostava, até experimentar. Que se eu experimentasse, também gostava. E toca de mexer.
Se gosta de mexer, que mexa, penso eu, calculando a vantagem duma bo­leia de 50 km. Pareço uma prostituta. Passo por cada uma! : - Um homem a meu lado, a soltar suspiros de amor e a dizer o meu nome, com ar apaixonado. Por este andar, qualquer dia pa­pam-me.
Boleia até Alicante. Muitas palmeiras, que dão uns frutitos pequenos, que não sei como se cha­mam.
Boleia de 3 ou 4 km dum belga que depois me convidou a tomar algo. Não aceitei.
Boleia de mais 4 ou 5 km, dum alemão numa “bruta máqui­na”.
Boleia dum casal jovem até Villajoyosa - 25 km. A estrada ia apinhada e a auto-estrada, ao lado, vazia.
Como já era de noite, apanhei um autocarro (a 1ª vez) até Benidorm, onde fiquei e onde vou aguentar mais um dia por 100 pesetas, com banho e tudo. Aproveitei para fazer uma lava­gem geral de roupa.
A dona do hostal é muito simpática e tem muitas sauda­des de Londres.
O ambiente aqui parece-me muito mais aberto que Marbella e Torremolinos e é mais à base de nórdicos.

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