Completo. Lê-se de cima para baixo

10º dia – Meados de Setembro

Saí de Torremolinos pelas 13 horas. Andei um pedação a pé.
Um tipo que distribui géneros alimentícios levou-me até Málaga, que é a uns 10 km. Diz umas palavras em português, pois trabalhou com alguns na Alemanha.
Málaga tem um castelo no alto e uma catedral que não visitei. Um passeio muito sombreado foi tudo o que percorri. Uma enorme fila de carruagens coloridas cujos cavalos têm na cabeça um guarda-sol pequenino, todo florido, chamou-me a atenção, assim como um auditório de construção arrojada, aberto para o jardim, onde a orquestra filarmónica de Málaga toca aos domingos.
Comprei um pedaço de coco. (!)
Almocei sobre as rochas, à beira-mar.
Depois, estive muito tempo a pedir boleia, andei um bocado e nada. Finalmente, uma senhora muito engraçada, Ana, levou-me mais 12 km, até Rincon de La Victória. Muito simpática. Fiquei à espe­ra duma possível deixa, se o interesse dela fosse mais lúbrico, mas não houve deixa e eu não posso tomar dessas iniciativas, pensando em mim e nos futuros penduras desta zona.
Lá fiquei nessa terra poeirenta até anoitecer. Mas que merda de férias. Se isto são férias de gente, macacos me mordam.
Procurei em toda a terra: não havia dormidas vagas. Andei 2 km para trás, para Cala. Só havia quartos duplos: 200 pesetas. Fui a uma velhota, que aluga quartos particularmente, mas deve ter tido medo de mim e foi dizendo que não sabia se tinha a olhar insistentemente para mim e acabou por dizer que não tinha.
Enfiei as minhas camisolas e jantei na estrada, disposto a dormir na rua, mas depois de jantar, quando já a ira se tinha ido um bocado, resolvi condescender e largar as 200 pesetas. Lá fui, mas já estava tudo cheio. Fui para uma bomba de gasolina, à espera que parasse algum tipo que fosse para um local onde houvesse dormidas, mas o raio da bomba não tinha freguesia nenhuma!
Bolas, tudo se proporcionou para que eu dormisse na rua, até a 1ª pensão onde fui que estava cheia, coisa muito rara de acontecer, segundo me disseram.
Em frente da bomba, junto a um muro, à beira da estrada mas um pouco abaixo desta, havia um pasto seco e fofo. Esten­di uma toalha por baixo, outra por cima de mim, enfiei os calções na cabeça, encolhi-me e toca de dormir.
Não tive grande frio, pois o vento amainou e desapareceu praticamente.
Estou agora com 1000 km de viagem.

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