Completo. Lê-se de cima para baixo

11º dia – Terça-feira

Um bocado ramelado, lá segui. Apareceu-me o distribuidor de pão especial e biscoitos que on­tem me tinha trazido até Málaga. Como ele ia em serviço parando aqui e acolá para deixar mercadoria nos supermercados, demorámos um bocado para chegar a Nerja, a 45 km de Málaga. Ainda fomos beber um café com uns “churros”, em Torre del Mar.
Ele trazia lá um bolo ou pão, que disse que era tão mau, que não o comia nem que lhe apon­tassem uma pistola ao peito. O tipo é castiço.
Comprei um livro em espanhol. Como poupei na dormida, faço agora uma extravagância.
Em Nerja, a malta não parava, de modo que fui andando a pé, 4 km. Terreno muito acidentado, mas muito bem culti­vado e regado, pois os tipos têm a sorte de ter um grande manancial num local alto e daí canalizam a água para irrigar aquilo tudo.

Nerja

Vi um nicho, com um Cristo grande, nicho esse atafulhado de garrafas de azeite e óleo: são a reserva, para uma lamparina sempre acesa, que tem ao lado.

A 4 km de Nerja, há a chamada “Cueva de Ner­ja” – gruta de estalactites. Depois de muito pensar nas 50 pesetas que ia dar, resolvi ir vê-la.
Não choro as 50 pesetas. Vale a pena. Não resisti a candidatar-me a estragar, por falta de iluminação, mais alguns “sli­des”, em pose.
A princípio, fiquei desgostoso pois via as estalactites todas partidas, mas nas duas salas maiores, a coisa está quase intacta. Será que qualquer dia construirão grutas em plástico?
Segundo rezam os “placards”, encontraram ali esqueletos e objectos que pensam ter 12.000 anos. Foi descoberta em 1959. Quem achou a gruta, parece que foi um ci­gano, a quem por isso deram dinheiro e um em­prego. Mas que gratidão malvada! Foi logo inte­grado.
Há lá colunas torneadas de tal maneira, que parecem aquelas colunas finas, tipo manuelino, das catedrais. Já o Kan – o inglês ma­ricas – me tinha falado nela.
Outra curiosidade é que, numa das salas, já foram dados espectáculos de “ballet” por vári­as companhias, há 15 ou 16 anos. Tem uma bancada pequena de madeira e os bailarinos dançavam no chão da gruta com cenário de colunas.

A seguir, apanhei boleia até Almuñecar com um desenhador da construção civil, por uma estra­da incrível, cheia de curvas e curvas e ferra­duras, com o mar lá em baixo e que se estende até quase Almeria. O mar lá em baixo e o tipo a acelerar… Fiquei aflito, quando ele perguntou se podíamos “tutear”. Afinal, era só para nos tratarmos por tu.
Almuñecar, vista lá do alto, tem uma grande zona verde, que ele disse serem culturas tropicais: o único sítio da Europa, onde há culturas destas. Pêra-abaca­te e bananas vi eu, mas também havia cartazes a anunciar “cultura de aquacates”, que penso que sejam abacaxis ou da família.
Em todo este bocado de costa, há assim estes vales fechados, com abertura larga para o mar.
Aqui, enquanto esperava por boleia, chegaram entretanto 2 italianas de Tri­este, que, claro, viajam muito mais depressa que eu. Vinham de Marbella e iam para Almeria. Uma tinha uns olhos azuis…! Logo parou uma carrinha para elas, mas como só podia levar uma, elas pediram-lhe para me levar antes a mim.
Assim fui até Motril. Mais estrada acidentada. Paisagem agreste, seca nas serranias, só com os atractivos do mar lá em baixo e da estrada sinuosa. Antes de Motril, vi uma terra muito bonita, com castelo – Salobreña.
Este, também distribui produtos alimentares. Disse que aqui perto de Granada se fazem fil­mes de “cow-boys”. Serão “Westerns-Paella”?
Em Motril, onde dormi, farto das minhas comidas – ai, a cantina da minha Empresa – comi num hostal: bolas, 145 pesetas por uma sopa aguada, uma pinga de vinho, melão e um bifito que vinha sem acompanhamen­to nenhum, se eu não pedisse umas batatas fri­tas.

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