Completo. Lê-se de cima para baixo

22º dia – Sábado

Apenas começou a haver luz, aí estou eu a caminhar até à saída real de Perpignan.
Até ao meio-dia, nada de boleias. Ainda me deitei mais um pouco, já chateado de pedir.
Depois, um casal espanhol levou-me até Carcassone. Tipos de esquerda. Sabiam muita coisa e falámos imenso do que se foi passando em Portugal.
Agora, não sei o que se passa. Se calhar, já o venderam em lotes, para os americanos atirarem garrafas de Coca-Cola e cuspirem “Chewing-gum”. Altos destinos…!
Em Carcassone, visitei o castelo medieval de cuja existência não suspeitava. Que coisa enorme e genuína. Com este, por certo, não estou a ser enganado. Muitas torres, muralhas e barbacãs. Muitas ruas e casas, por dentro das muralhas.

Carcassone


Despertou-me também a atenção uma igreja que lá existe. As muitas figuras na pedra, por cima das por­tas e em frisos perto do telhado são surpreendentes, em relação ao que tenho visto. Parece-me que é um estilo desta zona. Ou são animais horrendos como sapos, ou caras humanas deformadas tal como as máscaras de Carnaval. Não parece um templo, ou antes, parece um templo sim, mas de magia negra, ou de feitiçaria, ou…
Imensa ventania. Tanta, que para tirar alguns “slides”, tinha que esperar um abrandamento momentâneo, pois, apesar do meu estabilizador-mochila, todo eu abanava.

Muita malta à boleia. Passei alguns 8.
Almocei tranquilamente a vê-los passar (os car­ros) e depois fui até Toulouse, com um alemão em férias.
Isto de um português e um alemão falarem inglês em França torna as coisas um pouco confusas, principalmente se ambos falam mal o inglês. E esta variação constante, ora falando espanhol ora francês ora inglês, leva-me por vezes a não saber momentaneamente onde estou geograficamente situado. Isto acontece também, porque as pessoas pouco variam. São tão banais aqui como em Portugal.
Outra coisa: Sinto falta de discussão. Em Por­tugal discutia, às vezes só para me afirmar, mas, sobretudo, porque é um exercício mental que faz evoluir. Desde que não ponhamos a necessidade de vencer a discussão à frente da procura da verdade. Bem, adiante.

Em Toulouse, arranjei hotel por 12 FF. Assim, está bem!
Voltei a encontrar o alemão e demos uma gran­de volta à cidade. Vimos a catedral de St. Etiènne, que tem a roseta extremamente descentra­da do portal central. Simetria é uma coisa que por ali passou só ao de leve.
O tipo é administrativo dum departamento alemão de investigação agrícola. É porreiro, mas tínhamos dificuldade na língua e, por vezes, tínhamos que nos socorrer de desenhos para nos fazermos compreender mutuamente.
Descobrimos uma coisa linda: Em plena rua, uma pequena orquestra de jovens tocava dois violinos, uma flauta, uma harpa e mais três instrumentos. Música muito suave e viva. Viva, porque ali. Viva, porque não só se ouve, como também se vê. E os tipos eram bons. Dei 2 FF, apesar da minha pouca “massa”.
Será que eles conseguem viver só de esmolas?

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