Completo. Lê-se de cima para baixo

27º dia – Quinta-feira

Toda a manhã o cachorro andou pela casa toda, a roer sapatos e trapos, a mijar no soalho e a rosnar.

Levantámo-nos e fomos confirmar a vindima. O tipo de ontem disse que afinal não pode aceitar-me, pois tinham chegado todos os vindimadores que esperava (ou será outro motivo?), mas levou-nos ao sogro que me aceitou. Começo amanhã e ele pensa que a vindima dele demorará 25 di­as.
Mas tudo isto é incrível! Então vou vin­dimar 25 dias?
Um vizinho deste disse que aceita as duas miúdas para vindimar.
Voltámos, elas ainda dormiam.

O padeiro tem uma casa cheia de todos os electrodomésticos, várias arcas congeladoras gran­des, pois às vezes vende gelo, compra tudo o que é bom (está sempre a mostrar coisas e a dizer: «Isto custou X - é caro!!» ) mas a sanita é num cubículo no quintal. Tem este quintal com galinhas e uma horta com pombos e hortaliça vária. Colhemos lá tomates e fizemos uma salada esquisita.

Escrevi ao Granja, ao Duarte, ao Henriques (colegas de emprego) e à minha irmã e ordenei a recuperação de qualquer correspondência que vá dirigida a Perpignan, até daqui a uma semana.

Finalmente, elas levantaram-se. Insistiram em tirar-me fotografias, uma das quais com a loura ao colo. Fotografia Polaroid ou seja 34 FF cada 8. Máquina do padeiro, claro, mas recusaram ser fo­tografadas com ele. Pobre tipo, está a ser chupado até aos atacadores e não leva nada.
Tratam-no com rudeza. Dizem-lhe: «Vai comprar isto – e ele vai…». Está dominado, até que se aperceba que está.
Ele vai-me dizendo: «Uma, sim, duas não – c’est cher!» Elas falam baixo para ele não perceber mas eu oiço bem e elas ignoram que eu perce­bo melhor do que falo.
A situação tem prós: Elas lavam o chão, cozinham bem e dão-lhe alguma alegria e, sobretudo, companhia.
Segundo me apercebi, do que ele foi dizendo, encontrou-as numa “boite”. Quei­xaram-se que os pais as tinham posto à porta e ele, coração grande, abriu-se. Parece-me que a loira, se lhes colou depois. É a mais sabidona e a outra ouve-a com atenção.

Fiquei com as minhas dúvidas acerca do opor­tunismo delas, pois aceitaram ir para as vin­dimas. (No dia seguinte fiquei a saber que não. Foram traba­lhar a manhã e não voltaram a aparecer. O tipo, sim, ficou a trabalhar 2 dias, até ao fi­nal das férias dele.)

Ao fim e ao cabo, não me posso queixar delas. Tratam-me extremamente bem, arranjaram-me tra­balho, são camaradas, mas a carteira do padeiro é que se lixa.

Ajudei um pouco a fazer o jantar, cujo prato forte foi peru no forno, mas houve ainda aperitivos, entradas, queijo e café.

Foram-me levar ao patrão, que me meteu num quarto limpo com casa de banho bestial. A cama é que é terrível: molas que rangem e se espetam nas costelas. Desisti do travesseiro (como sempre) e, como é comprido e largo, meti-o na cova do meio da cama por baixo do lençol. Ficou razoável.
Há pelas paredes pelo menos quatro grandes aranhas que espero me ajudem a caçar as melgas.
O silêncio é grande. Só se ouve o vento.

1 Comments:

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