Completo. Lê-se de cima para baixo

44º dia – 17 de Outubro de 1976

Um tipo, que foi deixado na estação por não trazer bilhete, insistiu com os tipos da C. P. para lhe darem um bilhete para o Porto, pois vinha de França e não tinha dinheiro. Como essa vontade não foi concedida, estendeu-se no chão a chorar.
Um carregador da estação começou a meter-se com ele, do género:
- “Ainda mexe as mãos. Ainda não morreu. Estes tipos guedelhudos não querem trabalhar. Nunca vi ninguém vir de França sem dinheiro”
A certa altura, o tipo levanta-se e atira-se ao carregador. Enrolaram-se pelo chão ao mur­ro. O carregador arrancou-lhe um pedaço de couro cabeludo, bateu-lhe com a cabeça na es­quina duma balança decimal e esmurrou-lhe a cara toda, até que o tipo disse:
- “Já chega”.
E lá seguiu para o hospital.

Meti-me no comboio parado e adormeci num banco, mas o frio era grande. Quando inventarão uma escrita que permita, sem muitas palavras, fazer sentir ao leitor o quanto é incómodo dormir num comboio gelado parado na Guarda?

Finalmente, pôs-se em marcha. Voltei a acordar a seguir ao Fundão. Cheguei à minha terra às 8 da manhã.
Ajudei um casal a encaminhar um porco que só gosta de caminhar pelo meio da estrada.

Em casa, tudo bem.

Devorei mais um jornal – o Expresso, isto de­pois dum bom banho e de vestir casaco, calça vincada e sapato de graxa.

Cheguei com 100 Dólares, 300 Francos, 1400 Pesetas e 2700 Escudos.
Trouxe, portanto, no to­tal, menos cerca de 3500 escudos do que levei. Para 44 dias, não é caro!

FIM

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